HIPERTENSÃO: CARDIOLOGISTA DA SANTA CASA FALA DE SINTOMAS, PREVENÇÃO E QUALIDADE DE VIDA
Em 17 de maio foi lembrado o Dia Mundial da Hipertensão Arterial, criado para reforçar as medidas preventivas em relação à doença que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), está presente na vida de cerca de 600 milhões de pessoas em todo o planeta, com mais de 7,1 milhões de mortes anuais. A popularmente conhecida “pressão alta” é uma condição crônica na qual pressão sanguínea nas artérias está persistentemente elevada. Isso faz com que o coração precise trabalhar mais para bombear o sangue por todo o corpo, aumentando o risco de problemas cardíacos e em outros órgãos.
O Dr. João Marcos Gomes, coordenador da Cardiologia e diretor clínico da Santa Casa de Vinhedo, fala da hipertensão alertando as pessoas para que sejam prevenidas e procurem um médico se não sabem se têm a doença. Quem tem parentes próximos com histórico de pressão alta e sintomas deve redobrar os cuidados, de acordo com o especialista. “A hipertensão arterial pode não mostrar sintomas, por isso é conhecida como ‘assassina silenciosa’. No entanto, em alguns casos, pode causar dor de cabeça, tontura e visão turva. Se a pressão alta não for controlada, pode levar a complicações graves, como ataque cardíaco, derrame cerebral e insuficiência renal”, destacou.

O cardiologista também mencionou a prevenção, riscos e como ter qualidade de vida sendo hipertenso, mas avisou: “O médico tem que dizer para o paciente que a hipertensão arterial não tem cura. Exige tratamento para sempre, todos os dias. Quem se trata corretamente vive bastante sem ter derrame ou infarto, sem precisar de diálise (filtragem do sangue) ou transplante de rim”.
Santa Casa de Vinhedo – Quais os fatores de risco da hipertensão?
Dr. João Marcos – Existem os fatores não modificáveis, sendo a genética o principal deles, envolvendo pais, avós e tios. Essa é a pressão arterial primária ou essencial, que só pode ser minimizada. Tem ainda a idade. Quanto mais perto de 60 ou 65 anos maior a incidência. Neste caso, 65% da população são hipertensos. Quanto às etnias, em outros países é mais fácil identificar, mas no Brasil isso não ocorre pela grande miscigenação de nossa população (negros, causasianos, arianos, espanhóis, portugueses etc). Na raça negra, a hipertensão é mais difícil de controlar.
E os fatores de risco modificáveis?
Os principais são: sobrepeso, obesidade, sedentarismo, uso de álcool e drogas e a ingestão de sódio e potássio. Dietas ricas em sal têm relação direta com a hipertensão. Não se pode pensar apenas no sal refinado, mas nos alimentos industrializados (pizza pronta, enlatados, embutidos, presuntos e azeitonas) e nos temperos de tabletes ou sachês Na Cardiologia, costuma-se dizer que existem três “drogas brancas”: sal, açúcar e cocaína. Todas têm efeito direto na mortalidade cardiovascular, por isso devem ser evitadas o máximo possível. Já os alimentos ricos em potássio fazem com que a pressão arterial diminua. São eles a banana e os vegetais verdes e escuros (espinafre, couve, agrião, acelga e brócolis).
Existe uma pressão arterial ideal?
A pressão considerada normal é de 12 por 9. As Sociedades Paulista, Brasileira e internacionais de Cardiologia, entretanto, aceitam uma pressão normal inferior a 14 por 9. Igual ou acima disso já é considerado hipertensão. Isso vale para os pacientes de baixo e moderado risco. Nos de alto risco, que têm alguma doença associada, a pressão tem que ser abaixo de 13 por 8. Isso vale para diabéticos, pessoas que já tiveram AVC ou que foram submetidas a transplante de órgão.

Quais as principais mudanças de hábito pensando em sobrevida e numa maior qualidade de vida do hipertenso?
O tratamento para a pressão alta é feito com medicação (sempre seguindo orientação médica), mudança no estilo de vida, atividade física aeróbica (corrida, andar de bicicleta, dança de salão, pilates e zumba) e alimentação adequada. O paciente não pode se esquecer do foco da redução de sódio, de peso, do consumo de tabaco, álcool e anti-inflamatórios e esteroides. Outro ponto importante: a pessoa tem que ter qualidade de sono; para isso, deve reduzir o contato com telas de computador e celular.
Você sugere uma forma de atividade física para superar o sedentarismo?
Oriento meus pacientes a seguirem a regra do 5-5-5: cinco vezes por semana (50 minutos cada vez), a pessoa deve andar 5 km. Isso é suficiente para controlar e ajudar no tratamento da hipertensão arterial. Vale lembrar que exercício resistido, ou seja, a musculação, aumenta a pressão arterial. Deve ser feito para evitar a osteopenia, que é a perda gradual de massa óssea e fase anterior da osteoporose (na qual os ossos ficam fracos e quebradiços, aumentando o risco de fraturas), principalmente em homens e mulheres que estão chegando aos 60 anos.
No caso das mulheres, a pílula anticoncepcional pode contribuir para a hipertensão? E os esteroides anabolizantes?
Pode sim, principalmente se ela não for prescrita na dosagem certa. Vale mencionar ainda os esteroides anabolizantes como causadores da hipertensão e, consequentemente, de infartos e AVCs em jovens de 18 a 30 anos. Vemos este público tomando injeções de esteroides normalmente aplicadas em cavalos para ganhar massa muscular. É uma “bomba-relógio” que vai explodir em algum momento.

E a apneia do sono?
É outro problema que interfere na hipertensão e que piora o prognóstico. Pacientes com obesidade abdominal que roncam à noite e param de respirar. Eles são muito propensos a terem Acidente Vascular Hemorrágico (derrame hemorrágico).
A hipertensão arterial é o principal fator de risco para derrames cerebrais e quais outras doenças?
Ela pode resultar em infartos, doenças renais crônicas diálises de transplante. É fator de risco maior do que colesterol alto, diabetes alto e obesidade.